Gente Diferente – Você conhece?

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Um dia desses, lendo uma revista de negócios, vi uma frase que me chamou a atenção. Lá dizia assim: “A verdade é que todos querem ser os melhores”. Fiquei a pensar sobre esta frase.

Cá entre nós, é uma bela idéia. E fica bonita como frase de efeito. Mas será esta bela idéia correta? Será que todos querem mesmo ser os melhores? Alias, será que todos querem a mesma coisa? Será correto supor que todos possam querer a mesma coisa?

Duas ideias se chocam em meu pensamento agora. Dois preceitos diferentes. Uma, a constatação de que se obtém o melhor de cada pessoa colocando-a em um grande desafio. O ser humano é um grande lutador. Grandes forças aparecem por grandes ideias, por grandes lutas.

A segunda é a constatação de que as pessoas são diferentes. Sempre diferentes. E, portanto deve haver quem seja a exceção à regra um. Deve haver quem não se motive por desafios. Quem não queira ser o melhor.

Estamos empatados. E agora?

Talvez possamos supor que as pessoas não se motivam por desafios passaram por experiências de vida que as fizeram descrer de seu próprio potencial. Aprenderam a querer pouco, a achar que não poderiam lutar, quiçá vencer. Aprenderam, a se render. Aprenderam a pensar que o adversário é sempre mais forte. Se pudéssemos mostrá-las seu potencial, mostrar a elas que todos podemos ser vencedores, quem sabe as teríamos de volta ao jogo.

Parece que a idéia do desafio está na frente agora. Mas é ilusão. Apenas transferimos o problema para outra esfera, para a esfera intrapsíquica dos sujeitos que não se motivam por desafios. Agora eles têm problemas psicológicos. Traumas.

Muito “inteligente” de nossa parte, descartar a oposição rotulando-os como mentalmente incapacitados. Doentes. Seriam como nós não fossem forças da “natureza”, eventos traumáticos que as fizeram ser do jeito que são. Precisam de tratamento para serem iguais a nós, os certos.

Só que não estamos certos. Estamos cegos. Só conseguimos ver nosso próprio reflexo no espelho. Só conseguimos ver o que é igual. Nossa proposta é que toda a diferença deva ser suprimida. Mas isso não é entendimento. E definitivamente, isso não é a verdade. Não diz nada sobre motivação. E não diz nada sobre as pessoas que não se motivam por desafios.

Quem são essas pessoas? Como são estas pessoas? Podem estar do nosso lado agora e nunca as vemos do jeito que são! Nunca compreendemos como pensam! Não sabemos como se motivam, o que as leva a fazer as coisas. Por que trabalham, pelo que vivem? São incógnitas.

Não sabemos nada ainda sobre este pessoal, mas já podemos dizer que a idéia dois ganhou a parada. Não resolvemos a questão, mas resolvemos o empate.

Até hoje não se encontrou nada em que todos os seres humanos sejam iguais. Somos intrinsecamente diferentes. E devemos nos motivar por coisas diferentes.

Ainda que haja um grande contingente de pessoas que adore um desafio, que dá o melhor de si para vencer grandes batalhas deve haver um grande contingente que é diferente, que se motiva por outras coisas. E a gente sabe muito pouco a respeito destas pessoas.

Ainda que muitos queiram ser os melhores, deve haver montes de gente para os quais fazer comparações entre melhores e piores, seja inapropriado. Gente que nem pensa nesses termos. Que não vê graça no desafio, na competição. Gente diferente. Nem melhor, nem pior, apenas diferente.

Provavelmente ganharíamos muito aprendendo com eles. Aprendendo sobre a diferença. Aprendendo a integrar e conviver com a diferença e anulá-la. Aprendendo a criar uma sociedade em que haja espaço para a diferença, onde cada um possa pensar do seu jeito e ainda assim ser aceito. Uma sociedade onde melhores e piores possam viver lado a lado, como iguais.

Autoria do texto:

Prof. Rodrigo Paiva de Castro atualmente trabalha como psicólogo na Unidade da Petrobras no Espírito Santo.

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